quarta-feira, janeiro 14, 2009

ANTONIO BOTTO



Andava a lua nos céus
Andava a lua nos céus
Com o seu bando de estrelas
Na minha alcova
Ardiam velas
Em candelabros de bronze
Pelo chão em desalinho
Os veludos pareciam
Ondas de sangue e ondas de vinho
Ele, olhava-me cismando;
E eu,
Plácidamente, fumava,
Vendo a lua branca e nua
Que pelos céus caminhava.
Aproximou-se; e em delírio
Procurou avidamente
E avidamente beijou
A minha boca de cravo
Que a beijar se recusou.
Arrastou-me para ele,
E encostado ao meu ombro
Falou-me de um pagem loiro
Que morrera de saudade
À beira-mar, a cantar...
Olhei o céu!
Agora, a lua, fugia,
Entre nuvens que tornavam
A linda noite sombria.
Deram-se as bocas num beijo,
Um beijo nervoso e lento...
O homem cede ao desejo
Como a nuvem cede ao vento
Vinha longe a madrugada.
Por fim,
Largando esse corpo
Que adormecera cansado
E que eu beijara, loucamente,
Sem sentir,
Bebia vinho, perdidamente
Bebia vinha..., até cair.


António Botto
Aves de Um Parque Real
As Canções de António Botto



ANJA

1 comentário:

PURO AMIGO disse...

Ola. Boa noite
Obrigado pelo bonito conteudo do seu comentário.
Belo, um bom poeta e uma boa escolha.

Saudades da beira-mar
Saudades da Lua e do Luar
Saudades das loucuras
Saudades do saber amares

Hoje já estou um pouco cansado.
Amizade
Miguel